União de Facto em Portugal: O que Precisa de Saber
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Viver juntos, partilhar o quotidiano, construir projetos... Cada vez mais casais em Portugal escolhem construir a sua história sem passar pelo casamento. Falamos então de União de Facto. Mas o que significa realmente este termo? Qual é a realidade jurídica por detrás desta liberdade?
Longe de ser um conceito vago, a união de facto é uma situação bem definida que implica alguns direitos e, sobretudo, uma ausência de proteção em certas áreas que é crucial compreender.
Este guia está aqui para esclarecer a situação e permitir que vivam o vosso amor com total conhecimento de causa.
O que é a União de Facto?
A lei portuguesa define a união de facto como a situação de duas pessoas que, independentemente do sexo, vivem juntas há mais de dois anos em condições análogas às dos cônjuges.
Em suma: é o facto de viverem juntos como um casal, mas sem serem casados. Não há uma cerimónia ou um contrato inicial para formalizar a união de facto; é um estado que é reconhecido pela lei após um período de tempo.
A Realidade Jurídica: A Liberdade tem um Preço
A união de facto oferece uma liberdade máxima. Mas esta liberdade é acompanhada de uma ausência de proteção legal automática em muitas áreas importantes.
O Património: Cada um por Si
O princípio geral é o da separação de bens.
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Cada membro da união permanece proprietário dos bens que adquire, mesmo que o outro os utilize.
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Se comprarem um bem importante em conjunto (um carro, um imóvel), ficam em compropriedade. Isto significa que são proprietários na proporção do vosso respetivo contributo (50/50, 60/40...). É crucial que isto fique bem definido no ato de compra.
As Dívidas: Sem Solidariedade
Ao contrário dos casais casados, não há solidariedade pelas dívidas. Cada um é responsável pelas suas próprias dívidas, com exceção das dívidas contraídas para fazer face aos encargos normais da vida em comum.
A Separação: Liberdade Total
Não há nenhum procedimento como o divórcio. A separação é livre e não dá direito a nenhuma compensação financeira para o membro da união com rendimentos mais baixos.
Em Caso de Morte: O Unido de Facto não é Herdeiro
Este é o ponto mais crítico. O membro sobrevivo da união de facto não tem absolutamente nenhum direito à sucessão do seu parceiro por lei. É considerado um estranho para efeitos de herança.
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Sem um testamento, não herda nada. São os filhos ou a família do falecido que herdam tudo.
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Mesmo com um testamento, os impostos sobre a herança (Imposto do Selo) são muito elevados, pois não há um vínculo familiar reconhecido para este efeito.
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Nota importante: A lei portuguesa protege o unido de facto sobrevivo, dando-lhe o direito de permanecer na casa de família por um determinado período.
Como se Prova a União de Facto?
Não existe um "certificado" como em França. A prova da união de facto pode ser feita através da declaração de IRS conjunta, de uma declaração emitida pela Junta de Freguesia, ou por qualquer outro meio que prove a vida em comum há mais de dois anos.
Conclusão: Liberdade com Consciência
A união de facto é uma escolha respeitável que privilegia a liberdade e a autonomia de cada parceiro. No entanto, é fundamental compreender que não oferece proteção mútua automática.
É um estatuto perfeito para quem deseja manter a sua independência, mas que exige antecipar os momentos difíceis (nomeadamente através da redação de um testamento) se se pretende proteger o parceiro.
Agora que compreende melhor este estatuto, descubra as alternativas que oferecem mais proteção no nosso guia completo "Casamento ou União de Facto?".